A maior declaração possível de ser feita na face da terra sobre alguém, partiu dos lábios de um homem simples que abandonara suas redes de pescador para seguir aquele a quem disse: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” (Mt 16.16).
Esta declaração não nasceu de uma elaboração intelectual ou um entusiasmo de sentimento; veio-lhe dos céus! Nasceu no coração de Deus. “Não foi a carne e o sangue quem te revelou, mas meu Pai que está nos céus”.
Esta afirmação retumbou por todo o universo como a mais clara, sublime e eterna verdade que nós humanos podemos conhecer. Ali, nas cercanias de Cesaréia de Felipe, estavam os discípulos face a face com aquele que é”…a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação”(Cl 1 .15).
Aquele que era “antes de todas as coisas” (Cl 1.17), entra no mundo com genealogia humana. Penetra na história dos homens em uma seqüência de gerações que vai até o primeiro homem. Assim tornou-se como um de nós. Foi gerado no seio de uma mulher simples por uma semente que veio dos céus. A única semente que produziu a vida: “a vida estava nele e a vida era a luz dos homens” (Jo 1.4).
O que era antes de seus antecedentes carnais (Jo 8.58), para ter “semelhança de homens; e reconhecido em figura humana” (Fl 2.7), precisou esvaziar-se da glória eterna que tivera junto do Pai, antes da fundação do mundo (Jo 17.5).
O Criador de todas as coisas com o Pai (Jo 1.3), tornou-se naquele que “assume a forma de servo” (Fl 2.7). Ele era rico, “se fez pobre por amor de vós, para que pela sua pobreza, vos tornásseis ricos” (2Co 8.9).
Tudo em sua vida ter rena faz um tremendo contraste com o que Ele era junto ao Pai. O soberano que criou tronos, soberanias, principados e potestades, e os criou para Ele, nasceu num humilde lugar, tendo como primeiro leito uma manjedoura.
Seu nascimento, evento único que revela o infinito amor que poderia ser dedicado a cada ser humano, foi anunciado a poucos pastores do campo e a desconhecidos errantes que buscavam confirmar deduções de uma precária astronomia.
Se nos céus aprouve a Deus “que nele residisse toda a plenitude” (Cl 1.19), na terra, onde “as raposas tem seus covis e as aves dos céus ninhos; o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça” (Lc 9.58).
Possuidor de toda a “profundidade da riqueza, tanto da sabedoria, como do conhecimento de Deus” (Rm 11.33), vai ao Templo de Jerusalém, aos doze anos de idade, assentar-se atento no meio dos mestres, ouvindo-os e interrogando-os (Lc 2.46).
Não foi num magnífico e solene recinto que recebeu a afirmação que a voz divina lhe fez. Foi nas circunvizinhanças do Jordão, onde um estranho profeta pregava arrependimento, que ouve o Pai testificar o que jamais poderia fazer a outra pessoa : “Tu és o meu Filho amado, em ti me comprazo” (Lc 3.22).
Ele que removera dos céus o anjo rebelde, aqui é por este desafiado.
O diabo não escolheu um palácio onde a vaidade e o orgulho humano imperam, onde políticos e cortesãs comercializam seus interesses, onde a riqueza e a pompa iludem, ambientes tão próprio dele, para ser o cenário da tentação.
Usa o ermo deserto onde está aquele que, fisicamente enfraquecido, busca a intimidade com Seu Pai, para definir o ministério que empreenderia.
Desenvolve um ministério onde não há lugar para a propaganda ou qualquer evidência pessoal. Suplica aos favorecidos pelos seus gestos de amor curador que a ninguém contassem a restauração recebida (Mc 1.44; 7.36).
Repreendia aos que queriam identificá-Io como o Cristo, para se resguardar da nefasta agitação carnal humana (lc 4.41 ). Ensinava não aos sábios e entendidos, mas aos simples e sinceros de coração: ” A vós outros vos é dado conhecer os mistérios do reino de Deus”. Aos arrogantes falava “por parábolas para que vendo não vissem e ouvindo não entendessem”( Lc 8.10 ).
Quando num excepcional momento em que foi exaltado sobremodo, quando estavam presentes três de seus mais achegados discípulos, Ihes roga: “A ninguém conteis a visão” (Mt 1 7.9). E, quando mais tarde o discípulo declarou que Ele era o Cristo, adverte-o que a ninguém falasse tal coisa a seu respeito (Mc 8.30).
Aquele que dissera ao Pai: “Eu sabia que sempre me ouves”(Jo 11.42), num jardim, desiste do pedido que fazia par realizar agora o que ouve do Pai (Mt 26.39).
Podendo rogar que fossem enviadas legiões de anjos para defendê-Lo, entrega-se pacificamente aos que vieram prendê-Lo (Mt 26.53). Guarda silêncio perante o tribunal que o acusa e também instiga depoimentos de falsas testemunhas (Mt. 26.63). Ele” veio para o que era seu, e os seus não o receberam (Jo 1.11).
A vida estava nele” (Jo 1.4) por isso deu sua vida em resgate de muitos numa infame cruz. “Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós” (2Co 5.21). “Oprimido e humilhado, mas não abriu a sua boca; como cordeiro foi levado ao matadouro; e, como ovelha, muda perante os seus tosquiadores, ele não abriu a boca” (Is 53.7).
O que pela sua palavra curou feridas e restituiu saúde a corpos, faz agora com que “pelas suas pisaduras fôssemos sarados” (Is 53.5). Aquele que nos deu vida foi morto e sepultado. Contado como um entre os homens por um recenseamento, agora é contado como um entre os mortos. Entretanto a tumba não pode contê-Lo. Ressuscitou.
O Filho de Deus que tornou-se Cordeiro de Deus, em breve irá voltar. “Todo o olho o verá, até quantos o transpassaram” (Ap 1.7). Como Juiz que tem em suas mãos a chave, toda a autoridade, da morte e do inferno, abrirá e fechará os céus, a morte e o inferno aos homens conforme seu justo julgamento.
Os remidos em Seu sangue entoarão aleluias pois serão convidados para as bodas do Cordeiro. E a sua noiva, a igreja, aclamará que Jesus Cristo, o Filho de Deus é “0 REI DOS REIS E SENHOR DOS SENHORES” (Ap 19.16).
Então Ele se assentará em seu trono ao lado do trono do Pai e nós, os remidos por seu sangue, contemplaremos a Sua face, e nas nossas frontes estará o nome dele. O Senhor nosso Deus brilhará sobre nós, e reinaremos com Ele pelos séculos dos séculos. Amém.
Erasmo Ungaretti