“Todo homem, pois, seja pronto para ouvir, tardio para falar… Se alguém não tropeça no falar, é perfeito… Ora, a língua é fogo; é um mundo de iniqüidade; está situada entre os membros de nosso corpo e contamina o corpo inteiro, além de pôr em chamas toda a carreira da existência humana, sendo ela mesma incendiada pelo inferno… A língua, porém, nenhum homem é capaz de domar… Com ela bendizemos ao Senhor; também com ela amaldiçoamos os homens, feitos à semelhança de Deus: de uma só boca procede bênção e maldição… Seis coisas o Senhor aborrece… Língua mentirosa… Testemunha falsa que profere mentiras, e o que semeia contendas entre irmãos.”
(Veja os textos na íntegra: Tg 1.19; 3.1-12 e Pv 6.16-19)
O ser humano possui uma particularidade muito especial: além da vida física, carrega consigo uma vida espiritual que o distingue dos demais animais criados por Deus. Essa realidade permite que desenvolvamos uma intimidade com o espiritual, seja com o Todo-Poderoso, seja pela influência do maligno. Devido a essa espiritualidade natural, detemos em nossas palavras a autoridade para abençoar ou amaldiçoar, dar vida ou tirar vida.
Os servos do Senhor, homens chamados pelo Espírito Santo e lavados no Sangue do Senhor Jesus, precisam prestar atenção especial às palavras que proferem, pois estão cheios da autoridade de Deus (Lc 10.19,20). O mau uso da língua pode trazer sérios danos a si mesmos ou a outros. Uma vida de constante vigilância, orientada pelo Espírito Santo, é a solução para manter a nossa língua sob domínio e em temor ao Senhor.
Os ensinamentos que Deus nos oferece em relação à fala são muitos. Neste breve artigo, destaco alguns deles. Abra seu coração e permita que o Espírito Santo ilumine seu entendimento, pronto a ouvir sua voz.
a) Todo homem, seja pronto para ouvir (Tg 1:19)
“Se o ouvirem e o servirem, acabarão seus dias em felicidade, e os seus anos em delícias.” (Jó 36.11)
Deus aconselha o homem a aprender a ouvir e valoriza os servos que, obedecendo aos princípios eternos, tornam-se bons ouvintes. “Chegar-se para ouvir é melhor do que oferecer sacrifícios tolos…” (Ec 5.1). Abrir a boca nem sempre é uma atitude sábia e pode nos levar ao erro. É preciso aprender a ouvir, tanto o certo quanto o errado, e só então, após reflexão, falar. Assim, não proferiremos palavras néscias. “…e do muito falar, palavras néscias.” (Ec 5.3). A condição de ouvinte é um conselho que encontramos em toda a Bíblia; veja algumas referências: “Inclinai os vossos ouvidos e vinde a mim; ouvi, e a vossa alma viverá…” (Is 55.3); “Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas…” (Ap 2.17); “As palavras dos sábios, ouvidas em silêncio, valem mais do que os gritos de quem governa…” (Ec 9.17); “Tenho ouvido, ó Senhor…” (Hc 3.2); “Agora, pois, se atentamente ouvirdes a minha voz…” (Ex 19.5); “Povos todos, escutai isto, dai ouvidos, moradores todos da terra…” (Sl 49.1); “Melhor é ouvir a repreensão do sábio…” (Ec 7.5), entre outros.
É notório, portanto, que o Senhor deseja que seus seguidores sejam bons ouvintes, que saibam ouvir tanto o certo quanto o errado e, após a análise, falem com a autoridade do Espírito Santo.
b) Todo homem seja tardio para falar (Tg 1.19)
O Senhor nos ensina a ser tardios no falar, ou seja, devemos pensar antes de nos pronunciarmos e não sermos precipitados em nossas declarações ou conclusões. Às vezes, a primeira impressão nos leva a conclusões que não correspondem à realidade de uma situação. É melhor calar-se!
Veja o conselho de Salomão: “Não te precipites com a tua boca, nem o teu coração se apresse a pronunciar palavra alguma… Sejam poucas as tuas palavras…” (Ec 5.2,3). “Não consintas que a tua boca te faça culpado… Como na multidão dos sonhos há vaidade, assim também nas muitas palavras…” (Ec 5.6,7). “O homem prudente se cala.” (Pv 11.12). “Até o tolo, quando se cala, é tido por sábio” (Pv 17.28). “No muito falar não falta transgressão, mas o que modera seus lábios é prudente” (Pv 10.19).
Escolhidos do Senhor, deixem que suas línguas sejam dominadas pelo Espírito de Deus, sabendo quando falar e quando se calar. É sábio pedir ao Senhor domínio sobre a língua.
c) Todo homem seja tardio para se irar (Tg 1:19)
O que realmente é a ira? No dicionário (Aurélio), encontramos a seguinte definição: “Cólera, raiva, indignação, desejo de vingança.” Quantas vezes esses sentimentos afloram em nosso ser contra um irmão, e, levados pela precipitação da carne, os exteriorizamos, trazendo sérias consequências. Por exemplo: vidas são destruídas, amizades tornam-se inimizades, depressões e desespero ocorrem, acidentes e crimes são cometidos, e a obra de Deus é envergonhada, entre tantas outras consequências.
Como seres humanos vivendo nas dificuldades do dia a dia, infelizmente não estamos isentos da ira e da raiva. No entanto, como homens espirituais, devemos observar a orientação que Paulo deu aos de Éfeso: “Irai-vos, e não pequeis; não se ponha o sol sobre a vossa ira, nem deis lugar ao diabo… Longe de vós toda a amargura, cólera, ira e gritaria… Sede uns para com os outros benignos, compassivos, perdoando-vos uns aos outros” (Ef 4.26,27,31,32).
Quantas vezes, na falta de sabedoria, nos expressamos no auge do “sangue quente” ou da “cabeça quente”, e os resultados são terríveis! Essa não é a forma correta de agir para um servo do Senhor. Contudo, se isso ocorrer, o mandamento de Deus é que “não se ponha o sol sobre a vossa ira”, ou seja, é necessário resolver o problema o mais rápido possível. Para contornar determinadas situações, é preciso se humilhar diante do irmão atingido e clamar por seu perdão.
A ira destitui o servo da graça de Deus e nos afasta da verdadeira comunhão com o Eterno. É impossível haver intimidade com Deus quando o nosso coração está cheio de ira e cólera contra o próximo. “Deixa a ira, abandona o furor…” (Sl 37.8); “O homem de grande ira sofre o dano…” (Pv 19.19); “O iracundo levanta contendas…” (Pv 29.22); “Não te apresses em irar-te, porque a ira se abriga no íntimo dos insensatos.” (Ec 7.9).
Meditando nesses textos, concluímos facilmente que, em nossa vida com Deus, não há lugar para a ira. A ira é fruto da carne: “…As obras da carne são conhecidas e são: … iras… e coisas semelhantes a estas, a respeito das quais eu vos declaro… não herdarão o reino de Deus os que tais coisas praticam” (Gl 5.19-21). A vontade de Deus para a vida de seus servos é que vivam em santidade, sem iras, sem contendas, e que saibam proferir palavras abençoadas. “A resposta branda desvia o furor, mas a palavra dura suscita a ira. A língua do sábio adorna o conhecimento, mas a boca dos insensatos derrama a tolice.” (Pv 15.1,2).
Se em alguma ocasião perdermos de vista esse ensinamento e agirmos de forma errônea, ou ainda, se formos o alvo da ira de alguém, o ensinamento que Deus nos dá é: “Se teu irmão pecar contra ti, repreende-o; se ele se arrepender, perdoa-lhe” (Lc 17.3). Essas palavras se aplicam àquele que se deixou irar e levantou-se contra outro. Com humildade e cheio do perdão de Deus, deve-se ir ao encontro da pessoa atingida e clamar por seu perdão. Mesmo que esteja cheio de razão, permita que o perdão flua de você.
Jesus nos fala sobre o perdão ao próximo. Ele deseja que o servo queira perdoar continuamente e ajudar aqueles que o ofendem, em vez de permitir que um espírito de vingança e ódio se abriguem. “Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem” (Mt 5.44-48); “Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor” (Hb 12.14); “Todo aquele que odeia a seu irmão é homicida…” (1Jo 3.15).
d) Seis coisas o Senhor aborrece (Pv 6.16-19)
Na palavra de Deus, encontramos a exortação a cuidar da nossa língua, pois, ao mesmo tempo em que ela é uma bênção, pode também ser uma maldição. “A língua do justo é como prata escolhida…” (Pv 10.20). A Palavra do Senhor nos ensina que a língua pode ser um instrumento de bênção e a própria fonte de maldição. E se não a dominarmos, seremos obrigados a responder a Deus pelo mau uso da nossa língua.
A verdadeira sabedoria está em saber conduzir a língua. No entanto, se não nos dedicarmos a aprender a conduzir a língua, com certeza ela nos levará ao erro. “A língua é fogo; é um mundo de iniqüidade…” (Tg 3.6). A primeira consequência do mau uso da língua é a destruição de nosso relacionamento com Deus. “Se alguém diz: Eu amo a Deus, e odeia a seu irmão, é mentiroso…” (1Jo 4.20). Outro resultado do mau uso da língua é a destruição dos relacionamentos humanos. Com palavras proferidas no calor da ira, em uma discussão ou discussão acalorada, muitos casais têm sua união rompida.
Além disso, a Palavra de Deus nos mostra que o mau uso da língua traz sobre nós a ira de Deus. Ao Senhor aborrecer-se com os que semeiam contendas, trará sobre os contenciosos um juízo severo. “Sabei que o Senhor separou para si o seu santo; o Senhor ouvirá quando eu clamar a ele” (Sl 4.3).
Concluindo, a Palavra de Deus nos oferece conselhos preciosos em relação à nossa língua. Que possamos colocar em prática cada um desses ensinamentos e assim andar com o Senhor em retidão e com o coração puro. A linguagem abençoada é um reflexo do nosso amor a Deus e ao próximo.
Pr Elias Rios