Hoje quero falar sobre a simplicidade no culto a Deus. Se olharmos a vida de Jesus e dos discípulos, vamos descobrir o princípio da simplicidade na vida da igreja primitiva.
Da mesma maneira que a sociedade moderna tem instalado a ansiedade na vida da igreja, também tem tirado a simplicidade do culto a Deus. Onde quer que um vá sente a sensação de que precisa uma estrutura para dar culto a Deus. Certa vez um irmão veio e me disse: “Asaph, a adoração em nossa igreja não é boa porque não temos um piano, nem pianista, de modo que a adoração não é adequada”. Este foi o termo que ele utilizou. Outros dizem: “não flui porque não temos equipamento de som”, ou “precisamos este ou aquele aparelho para que a adoração flua”.
Eu vejo que isto acontece porque a igreja não conhece o que é o verdadeiro culto a Deus. Neste século temos perdido como igreja a capacidade de compreender que o culto a Deus é simples. Que foi exercido por Jesus e os apóstolos de uma forma profunda e simples, sem piano, sem violão, sem microfone.
Na história da igreja vamos encontrar este princípio como base de benção, e do fluir do Espírito no culto a Deus. Eu fui um dos que, no princípio do ministério, não podia entender o fluir no Espírito sem música, sem violão, sem estruturas; mas o Senhor tem me ensinado que o lugar da habitação de Deus e o verdadeiro culto a Deus é nosso coração, e que tudo o que fazemos na igreja e no culto a Deus tem que ter base em nossa vida.
Se estivermos esperando o fluir do Espírito por coisas externas nunca vamos chegar ao que quer o Senhor. Nunca vamos chegar as profundezas do conhecimento de Deus, a profundidade da presença verdadeira, genuína de Deus na vida da igreja, porque sempre estaremos dependendo de algo externo.
Eu me lembro de uma vez que estava em Brasília, pois me haviam convidado para dirigir o louvor em um grande estádio. Haviam usado muito dinheiro na estrutura do encontro, com som de primeira, palestrante de primeira, etc. Havia vindo ônibus de todas as partes e o prédio estava repleto. Tudo estava pronto para começar, e às 6 da tarde o céu se fechou. Brasília é um lugar seco, mas a gente não sabe que ali acontecem os maiores temporais do Brasil. E começo ali mesmo um destes temporais. Às 7h não havia gente, às 7h30min chovia e a água entrava por todos os lados do estádio, porque não havia lugar onde refugiar-se.
Minha filha Aurora era pequena e eu tive que tirar um plástico do piano para colocar sobre o seu corpo. Chovia, a luz acabou, o palestrante chegou, estava tudo pronto, mas os instrumentos estavam todos molhados, e não havia nada que se pudesse fazer.
Às 8h30min me pus em frente do povo em total escuridão, pedi silêncio e lhes disse: “irmãos Deus quer ensinar-nos algo hoje”, e começamos a louvar ao Senhor somente com as vozes. O tempo foi passando e passando, não havia líder de louvor, não havia nenhum tipo de direção, mas a presença do Espírito Santo foi tão forte, que eu registrei na minha vida aquela reunião como uma das referências da presença de Deus no meio da igreja.
Meu violão estava quieto e molhado, os pianos em silêncio e molhados, tudo parado, sem luz, sem nada, o Senhor me disse: “Asaph, assim quero este meu culto, algo genuíno, verdadeiro, brotando e fluindo da vida de cada irmão, com toda força de seu coração, não motivado por coisas externas, sim fluindo do interior.”
Quando a igreja do Senhor se reúne temos que ter o foco correto do culto a Deus. Primeiramente temos que levar em conta que o culto a Deus é individual, e logo se transforma em algo corporativo, mas primeiramente é individual. Não gosto da expressão “este culto não foi bom”, ou “este culto não fluiu”, ou “que culto mal”, não gosto disso porque demonstra que meu culto a Deus é assim.
Aos que fazem este tipo de comentário tenho ensinado que o culto a Deus é algo que brota do seu coração, e que o fato de que o culto dele tenha sido ruim, porque seu coração deu um culto ruim. Quando estas coisas acontecem é muito fácil para nós, adotar uma postura tradicional e depender da maneira em que sempre se fizeram as coisas para faze-Ias hoje.
Mesmo na renovação precisamos constantemente renovação na expressão do culto a Deus. Quando nos reunimos, que fazemos para dar culto a Deus? É fácil nos acostumarmos as tradições do culto.
Por exemplo: sempre se começa o culto cantando, é assim, porque na última reunião foi assim, e um mês atrás também foi assim, e há dois anos atrás também. Quem é responsável? Asaph, Hugo Baravalle. Sempre os primeiros quarenta e cinco minutos da reunião são de nossa total responsabilidade, por que? Porque fazemos isto há mais de vinte anos, mas o culto a Deus tem que ser mais que isto.
Creio irmãos, que a grande revolução da igreja hoje tem a ver com o culto a Deus. Deus quer restaurar o culto da igreja com um entendimento claro de que o culto a Deus é responsabilidade de cada um de nós. Por isso não há nenhuma fórmula apostólica de como deve ser a reunião da igreja. Graças a Deus! Imaginem se houvesse uma ordem de culto na Bíblia, mas pela graça de Deus não foi deixado uma ordem de culto por escrito. Os católicos fizeram, 1.400 anos atrás, o cânone que foi trocado um pouquinho, mas basicamente é o mesmo. Mas Deus quer que nós, a igreja em restauração, não cometamos o mesmo erro de nos determos em uma ordem rígida de culto. Deus quer trocar nosso culto, nossas reuniões, começando pelo culto individual da cada um de nós.
Porque quando a igreja está cheia não há nenhuma dificuldade, não necessitamos ter temor de que algo não funcione, porque cada um tem salmos, hinos e cânticos espirituais. Isto mostra uma dinâmica simplicidade na vida da igreja que nós temos que aprender. É uma dinâmica que não depende de uma pessoa que tem a carga ou a responsabilidade, senão que está em total dependência do Espírito Santo.
Quando nos reunimos, cada um de nós tem a responsabilidade do culto a Deus, não pensemos “fulano vai presidir e não tenho nada para dar, eu vou receber”. Muita gente está acostumada a
vir à reunião por anos, por décadas, sentar-se em uma cadeira sem compartilhar nunca nada com ninguém, sem abençoar ninguém, sem trazer uma palavra do Senhor para alguém, sem cantar jamais um cântico espiritual, sem dar uma palavra profética. A maioria das pessoas na igreja esta nestas condições, e estamos promovendo uma nova casta de ministros. Na restauração da igreja existem novos títulos, como “diretor de louvor”.
Eu não sou um diretor de louvor porque o ministério de louvor é de todo o corpo do Senhor. Existe gente que Deus chama para esta tarefa, não vamos tirar os irmãos que estão fazendo este serviço, mas não é um título, é uma função no corpo, o que Deus quer ensinar-nos é que toda a igreja participe do culto a Deus. Primeiramente temos que entender quem se reúne quando nos reunimos.
O Senhor Jesus disse em Mateus 18: 20 “Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali estou no meio deles” Quando o corpo de Deus está reunido, ali está o Senhor”.
Os que ministram tem que ter este entendimento, não necessitamos de grandes multidões para aprender a valorizar uma reunião. Temos que aprender que o valor da igreja do Senhor é o mesmo independente do número de pessoas que estão reunidas. Soube de alguns que somente vão ministrar quando existe um número de pessoas superior à 200/300. Temos que tirar isto do meio da igreja e aprender a valorizar.
Se você tem em sua congregação vinte pessoas, saiba que esta é a igreja do Senhor. Se você foi chamado pelo Senhor para ministrar em seu grupo caseiro, seja você mesmo, não importa se tem outra responsabilidade com toda a igreja, mas aprenda a valorizar o corpo de Cristo.
Para que se reúne a igreja?
Primeiramente para adorar ao Senhor, sempre temos que ter em nossa mente que uma das principais diretrizes para estarmos reunidos, é a adoração. E há muitas formas de adoração. Temos que desenvolvermos como igreja na adoração, em cânticos, palavras, salmos e hinos espirituais. Estas são as bases da vida de adoração da igreja às que sempre temos que voltar, porque a sofisticação nos afasta da simplicidade da vida de adoração.
Para que nos reunimos? Para adorar ao Senhor. Adorar significa prostrar-se na presença do Senhor, estar diante dEle com nossas vidas rendidas, entregues completamente. Reunimo-nos para adorar, nos reunimos para expressar a múltipla sabedoria de Deus através do corpo, para fluir nos dons do Espírito.
Eu creio que a igreja do Senhor tem que ser rica nos dons, na música, na profecia, no cantar ao Senhor, bendizer seu nome, estar sempre prontos para abrir nossas vozes na presença do Senhor para manifestar sua glória, seu poder.
Devemos tirar de nossas vidas toda comodidade e dizer ao Senhor: “Eis-me aqui, estou disponível para ser usado por ti, em toda plenitude de teu Espírito”. Cada um compartilhando o que tem. É muito fácil vir a dar culto ao Senhor para ouvir a alguém, mas é mais difícil ouvir nós mesmos a Deus. Por isso na reunião há muita gente sentada, parada, que não participa de nada, não fala, não canta, não compartilha: porque não ouve a Deus. Muitas vezes a culpa é nossa, dos pastores, da liderança, porque não damos oportunidade nem tão pouco uma direção ensinando a igreja a ouvir a Deus.
Para compartilhar temos que ouvir ao Senhor, Se você quer ter uma benção para o Senhor em suas mãos, tem que aprender a ouvir o Senhor, para isto tem que ter tempo na presença de Deus. Tens que ficar sozinho com o Senhor, tens que valorizar teus momentos de comunhão para que
Ele possa falar ao teu coração, a teus ouvidos, a teu espírito. Ouve a voz de Deus em teu coração, não somente o que os outros tem a dizer, e sim o que o Senhor quer comunicar ao teu coração, assim poderás compartilhar.
Nos reunimos para proclamar a palavra de Deus, e nos reunimos para ter comunhão uns com os outros, mas sempre como corpo de Cristo
Como deve reunir-se a igreja?
Primeiramente com reverencia ao Senhor, eu não quero dizer que seja um desses lugares em que está escrito: “silêncio, esta é a casa de Deus”, mas o culto a Deus tem que ser reverente. Reverencia não é medo, não é silêncio, reverencia é uma atitude de temor com base no amor ao Senhor. Reverencia ao Senhor é saber que Ele é Deus e está em nossos corações, pelo que nosso culto não deve parar nunca.
De modo que quando nos reunimos deve haver reverencia, mas como é uma reunião do corpo de Cristo também deve haver alegria, como fruto da gratidão em nosso coração. É o único lugar neste mundo onde esta a verdadeira alegria.
Eu me lembro quando o Senhor me chamou para ministrar em tempo integral, eu era engenheiro de som em uma grande companhia de televisão em Porto Alegre. Era o supervisor geral do som, técnico de sistemas e fazia som para o show da Xuxa, que vinha à Porto Alegre. Neste encontro havia mais de 100.000 crianças, eu estava no centro do estádio, escutando todos aqueles gritos histéricos em torno da Xuxa, eu estava bem perto dela, com o controle remoto de todo o som. Então escutei como se todo o som tivesse parado, que o Espírito me dizia: “Asaph, escuta esta alegria, é toda falsa. Escuta a alegria que esta moça transmite, é falsa, eu quero que tu leves a verdadeira alegria”.
Em dois dias eu havia apresentado minha carta de demissão na emissora de televisão, porque eu tinha que levar a verdadeira alegria. E, irmãos, quando a igreja se reúne, têm que ser forte na alegria. A reunião do grupo caseiro tem que ser forte de alegria, todos os eventos da igreja têm que estar plenos de alegria.
Quando nos reunimos com um coração cheio de cânticos, de alegria, de exaltação, de ação de graças, o culto a Deus sai da monotonia, sai totalmente do tradicionalismo, porque quando nos reunimos esta na expressão da gente que ama e agrada a Deus.
Efésios 5: 19 “falando entre vós com salmos, entoando e louvando de coração ao Senhor com hinos e cânticos espirituais” Quando estamos juntos, há salmos? há cânticos? ou somente música. Temos que aprender a valorizar aos que não são músicos, aos que cantam com gemidos indecifráveis.
Certa vez em Porto Alegre, gravamos um disco. E o desafio do Senhor em meu coração foi o de gravar um disco ao vivo com tudo o que acontece na reunião. Ensaiamos e ensaiamos.
Eu planejei muitas coisas, mas o Espírito trocou tudo. Começou mudando a data, depois no meio alguns irmãos começaram a entoar cânticos espirituais. Geralmente os cânticos espirituais não são cantados pelos mais afinados, o Senhor me disse para deixar assim em meu disco, e eu tive fé para deixar. Espero que você ouvindo o disco seja abençoado, porque eu fui profundamente edificado, ouvindo o que o Espírito gerou. Foi a primeira vez que fizemos algo ao vivo, se chama “igreja viva”.
Deus não escuta como nós ouvimos a voz de alguém afinado ou desafinado, Deus ouve o coração. Deus escuta teu coração, não tenhas nenhum medo de compartilhar o que o Senhor há posto, porque Ele já ouviu. Eu tenho certeza de que quando você liberar o que Deus já está escutando dentro de ti é uma benção para alguém. Aprende a levantar tua voz em adoração ao Senhor, deixa o Espírito Santo tirar as amarras do coração, e da tua boca para aprenderes a cantar.
Certa vez eu fui a uma igreja (nunca vi algo igual) quando começaram os cânticos espirituais, se formou uma fila de gente para cantar em frente ao microfone e o pastor teve que encerrar porque havia muita gente com cântico para entoar.
Às vezes e em Porto Alegre acontece, temos que empurrar alguns para que cantem, temos que chamá-los, discipliná-los para que aprendam a fluir.
Ministra ao Senhor. Abre tua boca e que saia toda a timidez. Há gente que sempre esta pronta para bendizer ao Senhor, para cantar, para engrandecer seu nome com toda liberdade. Na reunião da igreja tem que haver liberdade, que nos foi dada pelo Espírito, liberdade não quer dizer desordem, liberdade balanceada pela ordem, pela submissão, pelo amor, pela honra uns aos outros. Sempre a liberdade é limitada pelo amor, e principalmente no culto a Deus quando estamos juntos, nunca a liberdade vai ser exagerada porque vai estar limitada pelo amor.
Temos que ter liberdade para ministrar, para sair, ir, compartilhar, abençoar, abraçar, beijar no nome do Senhor aos irmãos, para que o culto a Deus esteja cheio da simplicidade do Espírito em nossas vidas.
Deus abençoe
Asaph Borba