“… recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até os confins da terra” (Atos 1.8).
Versículos adicionais: João 14. 16; 15.26,27; 16.7-17.
Por duas vezes, em um mesmo período da história humana, Deus agraciou o mundo com duas de suas mais preciosas dádivas. A primeira dádiva é apresentada pelo evangelista João, em uma frase precisa, extremamente rica e, ao mesmo tempo, simples: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (João 3.16).
Esse primeiro dom rasgou o véu que separava o homem da presença de seu Criador, concedendo a todo aquele que crê aproximar-se “com sincero coração, em plena certeza de fé, tendo o coração purificado da má consciência e lavado o corpo com água pura” e “Tendo, pois, intrepidez para entrar no Santo dos Santos, pelo sangue de Jesus” (Hebreus 10.22).
A segunda oferta foi anunciada aos discípulos pelo próprio Mestre, poucos momentos antes de deixá-los e ascender ao céu: “mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra” (Atos 1.8)
Sobre tais doações a igreja – o corpo de Cristo na terra – foi estabelecida. Sem elas não há possibilidade da existência da igreja. A igreja é extremamente importante para nós porque está fundamentada na pessoa de Jesus Cristo e mantida pelo poder do Espírito Santo.
Certamente, todos nós aqui, tivemos duas experiências que marcam e alimentam a nossa vida espiritual. A primeira foi o nosso encontro pessoal com o Senhor Jesus Cristo, quando unimos através da uma aliança no seu sangue unimos a nossa vida à sua vida. O abençoado resultado dessa unidade é que passamos a estar “em Cristo”. Assim, nós podemos nos ver inseridos na declaração de Paulo: “se alguém está em Cristo, é nova criatura” (2Co 5.17). Esse é o maior privilégio que uma vida humana pode ter, pois; ele a introduz bem dentro do propósito eterno que Deus tem para os que crêem: “para serem conformes à imagem de seu Filho” (Romanos 8.29). A segunda experiência foi o nosso batismo no Espírito Santo, ocasião em que algo excepcional ocorreu conosco: tornamo-nos habitação do Espírito Santo, pois, ele passou a viver em nós.
Com esses dois momentos ganhamos três inestimáveis valores:
(1) um novo endereço. Fomos mudados de onde estávamos – em nós mesmos – para estar “em Cristo”;
(2) um novo posicionamento. Nascemos de novo tornando-nos “novas criaturas em Cristo”
(3) um novo valor. Nos tornamos, no dizer de Paulo, “santuários do Espírito Santo” (I Coríntios 6.19). A tudo isso a bondade de nosso Pai acrescentou algo excepcional, nos fez “assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus” (Efésios 2.6). Nesse lugar já fomos colocados, não é algo futuro, é presente, nele já estamos. Esse é o galardão que nos foi legado. Isso atesta que somos filhos amados de Deus, o que nos habilita à missão que o Senhor Jesus comissionou a todo aquele que é seu discípulo, quando disse, utilizando uma frase simples construída com apenas dois verbos ligados por uma conjunção e a um substantivo: “ide e fazei discípulos”.
Não discorreremos, neste encontro, sobre a primeira experiência – Cristo e a nossa conversão a ele. O propósito que temos diante de nós é reflexionar sobre a segunda colocação: a presença do Espírito Santo em nós, o seu significado e as implicações que decorrem desse acontecimento, direcionando a nossa reflexão para o imperativo do texto de Atos 1.8: “recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas” (Atos 1.8). Essa é a última palavra dita por Jesus, antes de sua ascensão ao céu, especificamente dirigida aos que são seus discípulos.
Oremos para que Deus nos conduza nessa reflexão.
A PESSOA DO ESPÍRITO SANTO
Revisando as afirmações bíblicas sobre a pessoa do Espírito Santo, as resumimos em cinco pontos, que são:
1. Deus é uma pessoa que se expressa em três identidades – Deus Pai, Deus Filho, Deus Espírito Santo. São três pessoas numa só Deidade. O Espírito é, portanto, uma das três pessoas que constituem essa Trindade. Ele, o Pai e o Filho formam uma unidade perfeita que os integra num só ser. O Pai, o Filho e o Espírito estão eternamente unidos, um ao outro, em um amor que se doa mutuamente. Onde Deus e o Filho agem aí atua o Espírito Santo. Onde o Espírito Santo opera aí estão colaborando o Pai e o Filho. Ele procede da mesma forma que o Pai e o Filho fazem. O ele glorifica ao Filho e ao Pai, assim como o Filho glorifica ao Pai e ao Espírito e o Pai glorifica ao Filho e ao Espírito. A fé cristã é, necessariamente, trinitária. Nós vamos ao Pai através do Filho e pelo Espírito (Efésios 3.18), e o Pai vem a nós através do Filho pelo Espírito (João 14.16-23). Jesus afirmou: “Ele [o Espírito Santo] me glorificará, porque há de receber do que é meu e vo-lo há de anunciar. Tudo quanto o Pai tem é meu; por isso é que vos disse que [o Espírito Santo] há de receber do que é meu e vo-lo há de anunciar” (João 16.14,15): Paulo escrevendo aos Romanos diz: “Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se de fato, o Espírito de Deus está em vós. E, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele” (Romanos 8.9). Vemos nessas afirmações uma correlação de atitudes nessa Trindade.
2. O Espírito Santo possui os mesmos atributos de Deus e do Filho; ele é eterno, onipotente, onipresente, onisciente etc. Em sua missão entre os humanos, ele tem funções especiais, como as de ensinar, inspirar, conduzir, guiar, fortalecer, animar, edificar, etc, aos que estão abertos ao seu ministério, sem, jamais, independer do Pai e do Filho. Sobre ele Jesus disse: “quando vier, porém, o Espírito da verdade, ele vos guiará a toda a verdade; porque não falará por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará as cousas que hão de vir” (João 16.13). Assim, o Espírito Santo age no mundo como um comunicador da verdade, um guia que nela nos conduzirá, um mestre com uma visão profética, da mesma forma que Jesus agiu entre nós, pois, ele afirmou sobre si mesmo, que: “As cousas, pois, que eu falo, como o Pia me tem dito, assim falo” (João 12.50). Jesus disse aos discípulos que ele enviaria um outro Consolador (João 14.16), tal como ele foi para eles e o Pai o é para todos que o buscam.
3. Em especial, o Espírito Santo se uniu, bem intimamente, a Jesus, durante o seu ministério terreno. Mediante isso, Jesus foi revestido da plenitude do Espírito Santo segundo indica o evangelho de João – “Pois o enviado de Deus [Jesus] fala as palavras dele, porque Deus não dá o Espírito por medida” (João 3.34). Notemos, também, nesse versículo a presença da Trindade. É, a partir da glorificação de Jesus, que o Espírito passa a ser uma dádiva a nós e à igreja: “o Espírito até aquele momento não fora dado, porque Jesus não havia sido ainda glorificado” (João 7.39). É, interessante, também, notar a interdependência de Jesus e o Espírito, mostrada pelo evangelho de João: “Aquele sobre quem vires descer e pousar o Espírito, esse é o que batiza no Espírito Santo” (João 1.33). Jesus que foi batizado no Espírito Santo de uma forma tão clara, se torna naquele que passará a batizar as pessoas nesse mesmo Espírito!
4. Todos os que receberam o batismo no Espírito Santo o tem como residente em seu espírito. Ele não está em nós para ser uma decoração, disso não precisamos; muito menos, para ser uma condecoração, disso não somos merecedores. Ele está em nós para ser o poder impulsionador do nosso viver em Cristo, tornando-nos aptos para realizar os propósitos que Deus tem em vista para a vida de cada um de seus filhos. O Espírito Santo que vive em nós, necessita transbordar de nós. Jesus revelou: “Quem crer em mim, como diz as Escrituras, do seu interior fluirão rios de água viva” (João 7.38). Logo a seguir, o redator desse texto esclarece: “Isto ele disse com respeito ao Espírito que haviam de receber os que nele crescem” (v39). Assim, os que realmente crêem em Jesus e têm o Espírito Santo possuem, em si, uma fonte da águas vivas e devem deixá-la fluir abundantemente.
5. O Espírito atualiza a obra de Cristo em nós e na vida da igreja. Ele é, segundo a promessa de Jesus, o outro Consolador (João 14.16) – [“Paráclito”, é a palavra que está no original grego e que algumas traduções a utilizam, transliterando-a para o português, em virtude de que ela não tem uma correspondente exata em nossa língua. Esse vocábulo é um adjetivo verbal passivo, indicando alguém que é “chamado para se colocar ao lado de outrem”, como um auxiliador, um defensor, um advogado no tribunal, etc. Com isso Jesus indica que os seus discípulos não ficarão sós, órfãos, desamparados, sem a quem recorrer (João 14.18)]. Esse é o encargo do Espírito junto a nós, particularmente, e à igreja, coletivamente. E, Jesus acrescenta: “o Espírito da verdade, que o mundo não pode receber, porque não no vê, nem o conhece; vós o conheceis, porque ele habita convosco e estará em vós” (João 14.17). Aqui há algo muito especial, pois, ao dizer que o Espírito Santo é “o Espírito da verdade”, indica que ele, sendo um espírito, nada o pode limitar, nem o tempo nem o espaço, assim, ele pode estar em nós onde nos encontrarmos e em todos os momentos de nossa vida. Isso é algo precioso, merecedor de nossa máxima atenção.
Usando a palavra “Advogado” como sinônimo de “Consolador”, lembro o ensino que o irmão Stephen Kaung trouxe, quando esteve em Porto Alegre. Ele disse que o Espírito Santo desempenha junto a nós, e junto à igreja, o papel que um bom e honesto advogado realiza:
1º – Ele representa o seu cliente;
2º – Ele protege o seu nosso nome. E o fará da melhor forma possível;
3º – Ele o defenderá diante do Tribunal;
4º – Ele tomará conta dos seus negócios.
Em outras palavras, o Espírito Santo é alguém que é, plenamente, responsável por nós. Ele nos representa, nos protege, nos defende, sempre estará interessado em nós, pois somos filhos de Deus e discípulos do Senhor Jesus, nosso Salvador.
Erasmo Ungaretti